sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quando Flutuam Icebergs no Whisky - por João T. Parreira


QUANDO FLUTUAM ICEBERGS NO WHISKY





Quando no whisky flutuam

icebergs
os meus olhos refrescam-se antes
dos meus lábios e a língua
é um Titanic muito próximo
de afundar-se.


© João Tomaz Parreira

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Dois Sonetos Ingleses - de José Félix


DOIS SONETOS INGLESES
1
Se verto um verso com ou sem lição
na vida de desvão falecimento
se o poema corre as bocas de vazão
que culpa eu tenho desse vil momento?
Se da palavra permanece ou não
o fogo, a chama do acontecimento
que diz da vida, o soprar do pulmão,
que sei eu do pó o materno alimento?
Se com a escrita forte de varão
falo de ideias, cópulas que invento,
fodem-se os filhos da pobre nação
e o país morre de entretenimento
– de gozo, de luxúria até mais não –
cada verso que escrevo é sem razão.

2
Se a esquina é o senão do sentimento
o incenso aroma assim tua razão.
Se a vingança declara a alimento,
cada terço que gravo é negação.
E, por tal, o presente, neste intento;
sem passado e futuro, pois então.
A errância que escrevo no momento
dá-me a rima, declaro a intenção.
Eu já sei o porquê do atrevimento
embora vá incauto e venha em vão.
Com o peso profundo do momento
— nos enlaces da minha libação —.
Não vale a pena o tal discernimento,
cada verso que escrevo é sem razão.


José Félix