segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

ARTE DA PESCA

















Arte da pesca

Componho a linha
aparelho a arte da paciência
e espero que o peixe morda o anzol
em aflitiva luta contra a escuridão
Não cabe no poema a estranha amargura
da visão da quietude e o que resta
é cortar a linha que segura a vida
perante o pensamento do conceito da morte
que todos esperamos sem remissão
A paciência é um jogo de xadrez
que acaba sempre com um xeque mate
depois de muitas jogadas de estratégia
Não sei porque filosofamos acerca angústia
quando percebemos cedo que o fim
é a cinza que tem a última jogada
A pesca é o leitmotiv
para nos esquecermos dos ossos
no meio de tanto mar e de tanto horizonte.

De José Félix

domingo, 15 de fevereiro de 2015

"REQUIEM" POR UM AMIGO

A minha singela homenagem ao Anacleto, no primeiro aniversário da sua partida. 15/2/2015.

Vi-te chegar "maçarico" e sorridente a Gago Coutinho, na tua primeira missão em T-6 no leste de Angola. 
Partilhamos voos em DO-27, no saudoso Cazombo. Por terra Luena espalhámos coragem e juventude.No Luso brindámos tantas vezes ao companheirismo e amizade. Na Ota fomos companheiros de liberdade e respirámos o mesmo ar durante muitos meses.
Separou-nos a "vida", mas sempre acompanhados na amizade!
Cumpriste primeiro a tua ultima missão, com a coragem e dignidade que dos bons sempre se espera.
Um dia entrarei na final para aterrar nesse imenso território celeste.
Dir-me-ás,com esse teu olhar sorridente e trocista: Bem vindo,
a esquadra precisava de ti!...
Nesse dia,serei eu o maçarico!
Abraço-te com este humilde poema.
Aceita-o como um "drink"e brindemos com a nostalgia da saudade e distância. -À TUA TRINITÁ!...

"Requiem"por um amigo
Que estranho sentimento de ansiedade
A dominar meu todo-corpo e alma-
Quando, naquela tarde amena e calma,
Te deixei com abraço de amizade.

Não era uma certeza. Mas em verdade,
Eu pressentia um pôr-do-sol sem alva
Um mal estar que nem a mente acalma
Talvez o despertar duma saudade.

E quando tu de mim te despediste
Ainda vi em teus olhos confiança,
Alheio ao teu finar amargo e triste.

E eu amaldiçoaria fado e sorte
Se não alimentasse a esperança
De te encontrar mais p'ra além da morte.

Júlio Corredeira
Ex Piloto FAP

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

RECORDAR UM PASSADO

Meu pensamento ausentava-se
Do corpo sem esperança
E vogava,sem rumo, por regiões incertas,
Paragens ínvias e desertas,
Dum mundo imaginário,
Onde apenas eu sou,
Qual fantasma solitário
Ou atrevido e louco vagabundo .
E entrei a sonhar:
Era um mundo
De fantásticas imagens,
Realidades ou miragens,
Nem eu sabia!
Mas era um lugar novo onde o calor,
Em frémitos de amor,
Beijava a planície virgem e calma,
E de cada beijo brotava uma flor...


De Júlio Corredeira

domingo, 1 de fevereiro de 2015

GENTES DA SAVANA


Na terra quente, desfazendo-se em poeira

E mal sustendo as raízes ressequidas,
Vão suportando as tormentas repetidas
E resistindo à fornalha soalheira.

Como será que perduram estas vidas?
Por que ideal lutam? Que bandeira
Os arrasta à dura prova derradeira
Sem que as razões vitais sejam ouvidas?

Nem o vento quente do deserto
Nem as feras, enormes, que ali perto
Esperam um passo em falso, em demasia...

Nada os mudará do seu intento
Porque a razão que os move e dá alento
É, pura e simplesmente, ...a TEIMOSIA!

Odienné, FEV 95

José Carvalho