segunda-feira, 20 de abril de 2015

A VERDADE DE UM OLHAR


Olho este nosso país e vejo hipocrisia
Entre pobres incultos e doutos barões
Entre os homens comuns e os grandes patrões,
E até em governantes que o povo cria.

São milhões trucidados ou em agonia
Por criminosos e autênticos vilões
Quantas vezes movidos por falsas razões
Ou a cobiça que os mortais cega e enfria.

E os crimes cometidos neste nosso "mundo"
Geram em mim uma ansiedade e um dó profundo
Ante esses fratricidas de sangue sem pudor.

E parece-me ouvir o grito dum pobre
Debruçado em contentor por algo que sobre
E sonho com o dia da bonança e do amor!

Júlio Corredeira

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A LÍNGUA

há quem adopte países e cidades
há quem afilhe a língua e a linguagem
há quem sublinhe a forma de sentir
e até subscreva o pensamento estranho
na emigração, no exílio da palavra.
mas a substância da raiz perdida
esgota a seiva salva no lio de água;
memória, pronúncia da larva ovo.
cravado, prometeu lamina a língua
que corta os elos lisos de lidar
onde o poder dos deuses corta a fala.
o sémen da palavra reaprendida
não poliniza a língua de outra fonte
e de que águas feita escorre límpida
em qualquer leito largo de sinais.

José Félix OPCART

terça-feira, 7 de abril de 2015

A RESSURREIÇÃO

Sem nada por que chorar
senão o túmulo vazio
e dois anjos a arrumarem a casa
vazia para sempre
sem nada sobre o que derramar o seu incenso
as mulheres
recém chegadas ao sepulcro
vão gastar os olhos na vigília
as mulheres sem um corpo onde encostar
o seu olhar silencioso
o fio das suas lágrimas
e regressam, as mulheres
regressam com o vento nas sandálias
as mulheres que vêm com o medo
mas com os cabelos como os ramos
perfumados de alegria.

© João Tomaz Parreira

domingo, 5 de abril de 2015

SEXTA FEIRA SANTA



A terra chora lágrimas de sal...
Há no seu rosto palidez sombria,
E ouvem-se, na treva densa e fria,
As gargalhadas cínicas do mal.

O ódio negro, como um vendaval,
Fustiga o monte inteiro noite e dia ,
Escorre o sangue rubro,em agonia.
Sobre a face dum luto universal.

E Tu, ao longe,ó Cristo solitário ,
Contemplavas o cimo do calvário
Donde, em sangue viria a redenção.

E na fronte do Homem pecador
Punhas um beijo de infinito amor,
Dizendo: Meu amigo e meu irmão!


Julio Corredeira