segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

MAIS UM ANO


Um ano mais!...uma vida!...
Mais uma ilusão perdida,
Mais desenganos; enfim!
Novo ano, nova esperança,
Aspirações de criança.
É sempre assim, é sempre assim!...

Ódios, invejas, para quê?
Se tudo quanto se vê,
Não passa de uma quimera,
Se todos somos irmãos,
Porque não darmos as mãos
Sem instintos de feras.

Novo Ano, Nova Vida
renasce a esperança perdida
em dias de felicidade.
Ela se encontra onde quer
fazendo o bem que puder,
Com amor e caridade

Neste viver, terra a terra
tudo quanto o mundo encerra
não satisfaz a ambição.
Somos uns pobres pedintes
Cheios de mútuos molestares
A viver sem coração

Vem um dia, e depois dias
que são as Avé- Marias
de rosário sem fim;
Hoje aurora florescente,
logo depois, sol poente
É sempre assim…
sempre assim será.


Aníbal de Oliveira

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

POEMA DE NATAL NO GUETO


As barbas do pai Aarão não poderiam
destilar os óleos do bálsamo antigo. Nas bocas
já não cabiam salmos, nem gritos, o silêncio
era um tesouro contido, no gueto de Varsóvia.

No início ainda dobravam o azul
dos lençóis, faziam contas ao zloty
guardado sob as ripas do soalho.
Passavam pelas ruas porque havia
sempre alguém a vender alguma coisa
sem o brilho do passado, quando se podia
abrir a janela e cantar para a rua e
desenrolar os rolos da Torah em alta voz.

Não há uma estrela de natal, fria
com filamentos de lume por dentro, ninguém
festeja em torno de um presépio, outra metáfora
alimenta a fé, a Hanukkah, as luzes
e as sombras, caem em silêncio
pelas faces dos judeus.

© João Tomaz Parreira

EVOCANDO BELÉM


Uma vez mais, festeja-se o Natal
Num mundo tão distante de Belém,
Onde ainda tão poucos são alguém 
E onde entre gargalhadas passa o mal.

Onde está esse amor universal
-Inestimável e fecundo bem-
Sempre a unir sem excluir ninguém,
Onde nunca haverá um marginal?

Eu sei que o meu desejo é utopia!
É que a dor,a miséria e a agonia
Hão-de sempre existir na humanidade.

Quando será, porém,frontal clamor
Contra o egoísmo, a guerra,o desamor
Dos homens a viver em sociedade?!...

J.Corredeira

domingo, 13 de dezembro de 2015

O QUINTAL...


Falava-me daquelas flores à chegada.
No afago do abraço, luzia radiante, porque sempre fui seu.
Dos olhos espalhava a ternura que semeou no ventre.
Exibia orgulhosa os lírios amarelos,
contava-me dos malmequeres brancos,
dos amores perfeitos, dos cravos,
da saudosa buganvília,
que o tempo frio queimou.
O quintal era simplesmente uma flor.
O verão vestia-se de festa
naquela rua.
Agosto queimava a saudade,
Bragança era vida que na ausência,vivia dentro de nós.
Foi ontem que abri a porta para além do hoje!
O efémero não cabe na rua da memória!
JCorredeira

domingo, 6 de dezembro de 2015

A DANÇA DE SALOMÉ


A noite na cúpula do palácio, a música
que se arrasta nas paredes, o coração de Salomé
como uma rocha, por dentro duríssimo
com um corpo a dançar sem transparências
Os braços, a que só faltam
as chamas de fogueira, cruzando-se no ar
As pernas ágeis e mortais
e os olhos de Antipas, esquecidos do reino
cada vez mais presos ao abismo
sem poderem reagir ao incêndio da paixão.
13-08-2015
© J.T.Parreira
(Maurycy Gottlieb, Salome's Dance, 1879)