domingo, 30 de abril de 2017

RESSONÂNCIAS !


Cansei!
Da alma, fugiu-me a paciência
De ouvir da voz, a opinião.
Esvaziei a mente da sabedoria,
Atulhada de sapiência vã.
Meus olhos só vêm demência,
Palavras em repetição.
Gasta-se a língua em teoria,
Ontem, hoje, igual amanhã.
"Passaritos" chilreando no ar,
Em bandos despidos.
Dinossauros, juízes do saber,
Verdades sem razão.
Solução, falar por falar,
Fulgores de substância feridos.
Criatividade, por querer ser,
Do pensador, a negação.
Esgotei!
"Santa paciência",imperícia,
Fazedor, de alheios a opinião?
Renego beber tal ciência,
"Saturei"!...
Comer, por comer...isso NÃO!!!
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Na essência como arte, um poeta nunca será um pasteleiro. Na arte como essência, um pasteleiro pode bem ser um poeta.
Na pretensão sem "identidade", um "postador"de Wikipedia nunca será nem uma coisa nem outra...
JCorredeira

segunda-feira, 17 de abril de 2017

GLOSA PARA A PAIXÃO SOBRE UM PRANTO DE LORCA



Às três da tarde
Eram as três rasgando a tarde
Quando os grupos desolaram
O silêncio das esquinas
À hora nona
Num relógio prevenido
As pedras sentiram-se
Como vento
Eram as três em ponto dessa tarde
Que até no coração das aves
Se sentiram
Eram as três em ponto
Nas horas dessa tarde
Já um lençol abria
O linho para a morte
E recolhia o sol
O seu cristal do dia
Eram as três em ferida
Dessa tarde
Já começavam nos olhos das mulheres
Os incensos da vigília
A morte começava
Às três da tarde
Quando o véu rasgou o templo
Com muito ouro e púrpura
Eram as primeiras três
Em ponto dessa tarde
Eram as sombras em todos os relógios
Quando um flanco se cravava
Com carmesim e água.

© João Tomaz Parreira

domingo, 9 de abril de 2017

ELEGIA DE MARÇO-UMA DEDICATÓRIA IMPOSSÍVEL


sento-me à mesa de um café a esculpir palavras
donde sai a poeira que polvilha o pó
nos dias vadios à espera que as margens dos rios
se tornem férteis fartos de pão e pássaros.
uma mesa nua de água límpida no sabor
da língua à míngua de gestos gastos gritos
nas horas pendulares. a vida o pêndulo
o pedúnculo de uma flor cortada no conto de um segundo.
há o sorriso das flores raras
mulheres jovens de carne lisa e desejo a brincar
com o espelho dos olhos com o reflexo lasso
de um poeta sentado à mesa de um café.
travo amargo sem o açúcar de circunstância
o café mal medido comedido
à espera que o pó das palavras se transforme
conforme o previsto.
um poeta tem a beleza de um cacto
simples e cheio de espinhos um estio
desenhado num jardim de inverno um inferno
no éden sémen púbere úbere no cedio do desejo
a mesa. o café tardio sem a surpresa da queda da palavra
o suporte a solidão longe heart with no companion de choen
«para o coração sem companhia para a alma sem um rei para a prima
ballerina que não dança com ninguém».
sou no passo apressado do caminhante o viajeiro errante
à mesa de um café.
decai a tarde no esplendor das folhas
os espelhos das sombras dos pardais perdidos
na luminosidade límpida dos olhos
uma tarde sem nome pronome que arde
sem tempo na ombreira sombria
das sombras diluídas nos olhos dos pássaros
das sombras luídas nas asas dos pássaros
das sombras caídas nas folhas das árvores
do estorvo da luz que zela a sombra
de um pássaro que poisa a brisa no ombro
que mealha as migalhas de searas cumpridas
um café na poesia da tarde oblíqua
na páscoa das palavras remidas. o pecado de um verbo
renasce a face de um fogo uma chama
e todo o tempo que dure essa chama
mas é sempre uma chama que talvez eu penso
incendeie as palavras na babel mesmo assim
que faça o papel a folha a página da árvore
dar a vida na dádiva do incêndio o incenso
da alma que acalma a voz a foz de um grito.
o mês de março tenho-o preso
nas flores murchas mais cedo cedidas
à tempestade dos olhos o reflexo dos espelhos
que toldam a secura dos jardins de promessas.
talvez houvesse que plantar mais dores
nos partos da memória mais sombria como dardos atirados
no escuro sabendo de antemão que os alvos
luzem ao silvo das setas iluminadas.
o mês de março já não é o que antes foi
e também não é o que agora soi
dizer uma explosão de esperança.
uma criança só uma criança pode ter a
palavra com que se cava a terra
e deixar as sementes nas veias do ovo
para que dê uma florescência
provinda da inocência de uma fala
sem a mancha que cala os anjos brancos
nas missas rituais da remissão.
é por isso que vou construindo um
poema no mês de março tardio
vadio de tardes verdes na certeza
de que as giestas amadurecidas
mesmo sem van gohg mesmo sem girassóis
mas com o absinto da cor da agonia.
que importa se os amantes se beijam como antes
no fim do mês de março um traço de primavera
eles plantam canções de florir flores
de promessas cravadas de desejo
nas mãos nas ancas a subentender o sexo
no amplexo suspenso no fio de sol.
vou ter contigo amélia aliada porque
não precisas de mim nem eu de ti tenho precisão
és a parte completa mais completa
de mim onde anuncio as primaveras e
no fio das quimeras planto jardins de margaridas
e flores raras saram a terra aromada
de dádivas nas águas iguais de
na chuva permanente permanecermos rio e foz
duma nascente única corrente.
o mês de março mês que só de marte
tem o nome é tão subjectivo
apesar da explosão de pétalas fogo de cores afago de cheiros.
março é o mês do mar mês de amar
antes de abril abrir completamente as árvores
ao sabor vário das águas jorradas
amanhã é abril. sei que o sol vem
vasto na laminada luminosidade o gume dos dias os gomos
saboreados como franjas de laranjas novembrinas.
resta-me um março que me foge no resto de março
a simples tarde que separa a margem
de outra margem mais longa que prolonga
declina no crepúsculo anoitecido


josé félix

domingo, 2 de abril de 2017

TÁS D´BALADA COMPANHEIRO!



Vais embora amigo,
Mais de meio século a servir Portugal!
Nos céus de Tancos,
De Montijo e Bissalanca.
De Luanda às terras do Moxico,
De Tete, Nampula e Mueda,
Atá para lá de Timor.
Andamos juntos por todos esses sítios!
Quantas saudades nos deixas?
Passeaste a tua beleza,
Mostraste o teu poder,
Nas Portuguesas terras.
Grande e generoso amigo que foste!
Suportaste tudo!
O guincho, a carga suspensa,
Flutuadores de emergência,
Pantufas,IFR,foguetes,
«Lobo mau» lembras-te?
A Savana africana?
Os soldados em«AVP1» chamando a «Mosca»
Precisavam de ti, do correio,
Da comida, da evacuação,
Quiçá do «Lobo Mau».
Lembras-te velha «cotovia»?
Passei mais de trinta anos na tua companhia!
Em terra no mar ou no ar,
Contigo!
Conheço milimetricamente,
Todos os circuitos do teu corpo!
Ainda não foste e já tenho saudades.
Também eu estou a esgotar o potencial!
É a frota em fim de ciclo!
Até sempre companheiro,


Luis Faria Costa