domingo, 25 de junho de 2017

FELICIDADE


Ela tem
A cândida serenidade
Dos eleitos e dos profetas.
No regaço sereno da esperança,
Essa virtude admirável
Que está para a bem- aventurança,
Como o amor para os poetas,
Como o sono para a eternidade,
Ela tem
O despertar de uma princesa,
A felicidade espelhada no olhar,
O sonho para além do firmamento,
O corpo de flor despida,
A candura que desperta o momento,
A fantasia nas palavras do falar,
A chama perene de vela acesa.
Ela tem
Tudo o que uma flor pode dar!
JCorredeira

domingo, 18 de junho de 2017

HOJE!



Saltam salgadas,
Roliças!
De onde virão?
Porque virão?
Não sei adivinhar,
Mas não posso ignorar,
Que vêm do coração.
Porque não param?
Porque me molham a face?
Que terei feito lágrimas salgadas?
Quero pensar,
Não me quero enganar,
Que chegaram molhadas,
Mas enfim, enganadas.

domingo, 11 de junho de 2017

O LUGAR DA POESIA


ao josé antónio gonçalves

eu sei onde vou pôr a minha poesia
vou colocá-la detrás dos buracos das fechaduras
nas frinchas das portas
e nos parapeitos das janelas.
vou vê-la andar por aí a fazer jogging
passeando o cão como se ele fosse
o psicanalista de serviço em domingos assim
imaginados pelo ruy belo
que até o sol do meio-dia agarra a melancolia
num girassol seco de sede e solitário
na carícia de uma papoila rubra
no fim da estação.
eu sei caro amigo que as coisas não são simples
e verei a poesia pendurada nos candeeiros
escondida em papel de prata dos maços de cigarros
ou em papel barato embrulhando
as figuras mais ridículas e rejeitadas
atiradas para o sótão onde o lixo aguarda
o tempo propício para que o index resolva
definitivamente a morte feita de gangrena
raiva ódio desprezo e de um amor
incompreensível que só os ratos
na sua extrema compreensão
terão o entendimento possível
das palavras semeadas a esmo
na lavradura de uma terra infértil
esganada pela ditadura de sacanas
que cortam rente as flores silvestres
a língua com o gosto das amoras
o primeiro sabor de um pêssego
e até a infrutescência de um figo lampo.
há tantos lugares onde se põe a poesia
esquecida nos sofás ou a mexer um copo de gin
nas noites que se pretendem mais escuras
do que as noites mais escuras na imaginação
do pedreiro de um poema feito com tijolo
de sete furos para a construção de uma casa-poema
onde cabe o sol de todo o ano e um riso cristalino
a começar as madrugadas.
eu sei onde vou pôr a minha poesia
no canto dos lábios de vinho de um homem do leste
no rap a passear no rossio ou nos restauradores
nos bares das docas da 24 de julho
e no corpo das putas possíveis que amam
na plenitude a vida como as outras mulheres.
ah com tanto lugar onde pôr a poesia
ainda verei gente como numa procissão de
homossexuais e lésbicas com bandeiras de poemas
e caixas parecidas com as dos bombons
a oferecerem a todos os filhos da puta
a poesia travestida de grandeza
como a humanidade se importasse
com as palavras presas numa garrafa
atirada ao oceano à procura de uma areia
longínqua uma ilha do dia antes
como se fosse uma sombra na imaginação
de um poeta-judeu ou de um judeu-poeta
que é precisamente a mesma coisa.
e como não há outra alternativa
eu sei onde vou pôr a minha poesia.

josé félix

domingo, 4 de junho de 2017

" O VOO DO AMOR "


Somos dois pombos doidos a voar
Pois só sabemos o verbo amar
Somos dois pombos levados neste voo
Por um louco amor que nos fintou.

Voamos esquecidos pelo tempo
Bem longe do mundo e do movimento
São nossas asas nosso louco amor
Voando...

Somos dois pombos doidos a voar
Pois só sabemos o verbo amar
Somos dois pombos levados neste voo
Por um louco amor que nos fintou.

E agora vão seguir-se outros dias
Lembro-me então do tempo em que vivias
Em que vivias sem ninguém para amar
E agora...

Somos dois pombos doidos a voar
Pois só sabemos o verbo amar
Somos dois pombos levados neste voo
Por um louco amor que nos fintou.