domingo, 29 de abril de 2018

O OUTRO - À GUISA DE EPITÁFIO


o outro - à guisa de epitáfio
não tenho a ousadia dos incautos
nem a subserviência dos fracos
e toda a vida me tenho pautado
na verticalidade das palavras.
estas, tal como o homem que constrói
a catedral para divinizar
o maior anseio das almas feridas,
estão sujeitas à mediocridade
pela contemplação vã, desmedida,
da semântica fútil e tão breve.
pois é. só que as palavras e o homem
fazem parte do mesmo tronco vivo;
a palavra declina o livre arbítrio
e faz o homem cego ou iluminado
que espelha sempre o outro no seu eco.
josé félix

terça-feira, 24 de abril de 2018

CRAVOS DE SONHO


(Porque te vi nascer, porque os abutres te secaram pétalas, sonho poesia).JC
Sermos livres
livres como o desejo
na liberdade de pensamento
de olhos que olhem e não vejam
senão o que se vê
de línguas limpas
que não apeteçam a podridão
de códigos que não sejam
letra morta onde tudo se lê
menos a palavra amor e liberdade
Jcorredeira


domingo, 22 de abril de 2018

AMANHÃ, ANGOLA!


Chega a noite triste e mansa

Parte o dia devagar,
Fica uma réstia de esperança
P´ra quando a manhã chegar.
Vêm meninos da rua
Não sabem ter alegria,
Trazem graxa na sacola
Nunca foram à escola
Esperando o novo dia.
Camiões de chapa amolgada
Levando na carga o povo,
Seguem ao longo da estrada
Toda ela esburacada,
Esperando o dia novo.
Chegam do lado do mar
São mulheres de quem as queria,
Sempre a mesma viagem
Trazem filhos na bagagem,
Esperando o novo dia.
Saco cheio de nada,
Na barriga nada de novo,
È o regresso malvado
Desse tempo metralhado,
Esperando o dia novo.
É na esperança do povo
Qual paz tão fugidia
Que se espera o dia novo
Que se aguarda o novo dia.


Angola,Lobito,10 de maio de 1999
Faria Costa

domingo, 15 de abril de 2018

E ASSIM É O VIVER


Quando eu era criança e inocente
e nem sequer sabia o que era a vida
só queria ser grande e crescido
e ser considerado gente.

Cresci, fui-me fazendo adolescente
e mais me deu a fúria da corrida
tecendo nessa altura e iludido,
castelos belos e lindo, no presente.

Mais tarde, já homem, em modos francos
aos poucos fui sabendo, os contratempos
que a vida nos traz sempre, quando avança!

E hoje , com alguns cabelos brancos
recordo com saudade os outros tempos
e choro por não ser sempre criança.




AO

domingo, 8 de abril de 2018

FOTOGRAFIA



O lado exterior da alma destas crianças.
Cresceram, já por certo não caberão nos corpos, nenhum
pintor escurecia assim estes olhos infantis.
Jamais se repetirá a altura, o riso, um olhar
à espera, um pé descalço
a receber o calor que vem do chão.
As tais crianças onde estão? Tão perto de mim
esta fotografia capturou a eternidade.

27/7/2017
© João Tomaz Parreira


domingo, 1 de abril de 2018

JESUS, PÁSCOA OU UM POEMA PRESENTE


Era verão
um sol ardente, abrasador,
queimava de vento
teu áspero caminho.
E tu, “junto ao poço de Jacob”,
fatigado, sozinho,
contemplavas as searas loiras
do calor.
Do Homem,
vivias a tremenda dor,
a soledade atroz,
dos sem pão e sem ninho
e vias já tão presente,
como um fogoso espinho
teus dias tenebrosos,
como Redentor.
vieste
pelo sofrer da humanidade,
por tal escondeste
a tua Divindade,
sob a capa frágil do homem
contingente.
Eu sei, que ouves a voz
de todo o que implora,
do que, o seu infortúnio
e sua angústia chora,
também, de todo o abandonado
velho e doente...
Jcorredeira
(fotos-net)