SAUDADES DO ALENTEJO
Ventos espanhóis
Rasgam charnecas verdes, de esperança
E de saudades;
E há donzelas campestres,
Nas portas de castanho,
Sem pintura.
De formosura real,
Sem cosméticos enfeites,
Essas deidades esquecidas
Dos montes alentejanos,
Vêem passar os zagalos
Com seus olhares maganos
De brejeiros,
Conduzindo p'las tardes mornas
De primaveras de Nilo,
Os rebanhos de carneiros.
Há idílios campesinos
Naqueles rostos trigueiros
De sóis sem poluição.
E em cada coração,
Palpita a afrodízia das vontades.
Saudades!
Saudades tenho-as eu,
Das tardes nos chaparrais,
Em que robustos ganhões,
Cantavam picando os bois,
A caminho dos currais.
E as canções entoadas,
Eram por força inspiradas
No tédio das solidões.
Ilusões,
De noites quentes,
Serões,
De luas inspiradoras,
Em que zagalos e pastoras
Entoavam melopeias,
Nas eiras,
De espigas e milho roxo atafulhadas.
Desfolhadas,
Vinho tinto,
Beijos roubados,
E violões dedilhados
Por lavradores de charrua.
A noite já não está nua.
Há volúpias de canções
A rastejar pelo brejo,
E nem as musas do Tejo
Para aqui foram chamadas,
Que estas gentes inspiradas
P'las raias da nostalgia,
Às línguas sempre caladas,
Angola, Maio de 1972
Um abraço
Filipe Raimundo