o eco das coisas imutáveis
há uma voz que vem do telhado.
brinca na flor dos dedos
límpida como a chuva da manhã.
o eco das coisas imutáveis é
um relógio preciso
na pele envelhecida.
mesmo que a cal dos ossos
reclame a terra de uma casa fria
não há nunca o último minuto
a reclamar a prece dita
na parede do templo de uma casa
construída prestes da partida.
velhas madeiras são o altar do sacrifício
na invenção do animal degolado
como se desse por cumprida
a morte resgatada dos corpos
daqueles em que a única invenção
foi viver com as sombras
dos que lhe deram os sinais do rosto
e a semelhança da voz
que a idade enriquece no caminho.
uma casa, a substância das janelas
presa no parapeito da distância
o olhar peninsular como se fosse
uma vingança feita na ressurreição
dos rostos da família desistida.
a casa, o templo vivo mesmo morto.
José Félix
imagem de ipsv.blog.br
José Félix
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