sexta-feira, 22 de março de 2013

O ECO DAS COISAS IMUTÁVEIS - por José Felix



o eco das coisas imutáveis

há uma voz que vem do telhado.
brinca na flor dos dedos
límpida como a chuva da manhã.

o eco das coisas imutáveis é
um relógio preciso
na pele envelhecida.

mesmo que a cal dos ossos
reclame a terra de uma casa fria
não há nunca o último minuto

a reclamar a prece dita
na parede do templo de uma casa
construída prestes da partida.

velhas madeiras são o altar do sacrifício
na invenção do animal degolado
como se desse por cumprida

a morte resgatada dos corpos
daqueles em que a única invenção
foi viver com as sombras

dos que lhe deram os sinais do rosto
e a semelhança da voz
que a idade enriquece no caminho.

uma casa, a substância das janelas
presa no parapeito da distância
o olhar peninsular como se fosse

uma vingança feita na ressurreição
dos rostos da família desistida.
a casa, o templo vivo mesmo morto.

José Félix

imagem de ipsv.blog.br