domingo, 30 de julho de 2017

UM "POETA DESCONHECIDO", EM ANGOLA


Texto marcado com o nº 18, de um lote manuscrito a caneta-tinteiro "Parker 51", em 1969:
"uma Flor abriu-se
ao calor da chuva
na noite presente nas estrelas
uma Flor acendeu-se
e os homens olharam-na,
mas iluminaram-se com velas." 
Texto marcado com o nº 6, de outro conjunto escrito a esferográfica, de 1969:
"com o rosto na terra
oiço passos cansados
e sorvo silêncios
de lágrimas vertidas
com o rosto na terra
sofro e espero
com o rosto na terra
sei mais de Deus
com a fronte erguida
ouviria outros sinais
mas com o rosto na terra
bebo a origem da vida."

© João Tomaz Parreira

domingo, 23 de julho de 2017

AO TEU ANIVERSÁRIO


Amanhecer sem desejar ser dia,
Lembrança, neblina,saudade,
Infortúnio de já não ter...

Imagem viva mas pungente
lacrimeja a poesia.
Hoje,sempre foi hoje,
A teu lado,na falta do teu viver.
Minhas lágrimas em verso iluminam,
Memórias e retratos pintados de amor.
Hoje é sempre berço da eternidade,
Meu orgulho, meu herói,
PAI?!...
Para ti uma uma flor!


Júlio Corredeira
31-10-2016

domingo, 16 de julho de 2017

O LUGAR ONDE



ao lado das pedras
na ternura táctil da noite
é fácil o desejo
o lugar onde se acomoda o corpo
na sombra dos gestos
a voz sussurra
a desvendar caminhos, margens
rio que toca os dedos
a tactear a foz, a emoção
já um segredo
na árvore deste lugar
onde a pedra vive
a carícia da mão



in O Lugar Onde
José Félix

domingo, 9 de julho de 2017

O CÃO DE GIACOMETTI


O cão da melancolia
procura qualquer coisa, põe o faro
paciente no chão
pescoço longo em baixo como uma tristeza
para pendurar as orelhas
O cão de Giacometti vê
as coisas
de barriga para baixo
O cão cabisbaixo, indiferente
às alegorias
flutua na arquitrave
dos seus ossos.
© João Tomaz Parreira

domingo, 2 de julho de 2017

COMPANHEIROS




Eu tenho um livro velho, amarelado
que sabe quase toda a minha vida;
Vibrou comigo em sonho enamorado,
sofreu comigo a chaga dolorida.

Relendo as folhas mortas, com cuidado
componho aquela história já sentida.
e sinto o coração alvoraçado
sofrendo a mesma angústia revivida

Mas o meu livro amarelado, antigo
está já tão velhinho, este meu amigo
que já não quer gravar mais dissabores,
apenas os bons momentos,
que ainda tenho da vida

Já me viu em tantas lágrimas perdidas,
fi-lo seguir comigo tantas vidas
que ele também se cansou de tantas dores.

Aníbal de Oliveira
A.O.