domingo, 28 de julho de 2019

PARTIDA


Recordo a flor efémera e bela
Que deleitava a minha juventude,
E que eu, alegre, acariciava amiúde
Em conversa inocente e tão singela!
Ao lado, em sua gaiola e perto dela,
Cantava um pintassilgo; e nunca pude
Compreender se cantava a amaritude
De passar a sua vida numa cela.
Eu, jovem, parti para terras bem distantes,
Um mundo que eu nem sonhava antes,
Dizendo adeus a todos os que amava.
E nesse dia, uma pétala murchou,
O pobre passarinho não cantou
E entre prantos e abraços eu chorava.
In “fragmentos de memórias ”

domingo, 21 de julho de 2019

AVISO


Os meus versos são para ler
E nunca para meditar
Quem notar defeitos ter
Peço-lhe para não criticar.

A minha pobre vocação
Não dá para eu brilhar
No entanto meu coração
Sendo pobre sabe amar.

Quem ele ama não digo
Só uma pessoa o conhece
Meu coração é mendigo
Sente frio e não aquece!


domingo, 14 de julho de 2019

MORTE NO MATO


domingo, 7 de julho de 2019

A FLOR DA ÁGUA


o copo de gin é o teu
segundo corpo ou o outro
corpo que procuras na resignação
de uma janela semi-cerrada
com receio de que a réstia de sol
aclare a ideia e a visão
de um saber que não soubeste
alisar a esquina sem ferir.
procuras o balcão, suporte dos olhos,
perdido nas ruas de uma cidade imaginada
e sangras palavras que o álcool
faz mais eficaz aos ouvintes
possíveis que escutam provisoriamente,
de passagem, à espera de um conto
sobre um gajo que ganha a existência
fazendo rodas de fumo cinza
nodando os dedos sobre o madeiro.
na tertúlia do próprio corpo
constróis o poema que é lido
com a voz de vinho por um tipo qualquer
e o leva para casa
como a relíquia mais presente de um dia de agonia.
há vidas que estão presas aos costumes
como outros há que se acostumam
aos restos das paredes onde se escondem
alguns minutos de sexo e esperma
e,também, ilusões de sonho no inox das colheres.
há quanto tempo não beijas o ventre
de uma mulher acesa
e sentes a flor da água seguir-te os dedos?

josé félix