A QUEIMADA
Houve hecatombes na selva
De feras surpreendidas nos covis.
Holocaustos ofertados
Aos deuses desconhecidos
Dos caçadores de ambições.
E as chamas em convulsões,
Traçavam rasgos no ar,
Para imitar o luar
Das noites iluminadas.
Gritavam macacadas espavoridas.
E as gazelas queimadas,
Gemiam no estertor das despedidas.
Os leões e as panteras
Lançavam roncos com eco
Na noite violentada.
E por cada baforada,
Extinguia-se uma vida com nobreza.
A noite ganhou mais vida
Com a morte da natureza.
Da terra brotava o sangue
Das bestas causticadas.
E as chamas ensanguentadas,
Davam matizes ao céu
De tintas nunca criadas.
Pinceladas,
Que um artista não traçou
Por impotência.
E do meio da violência
Sobressaia a imponência
Da grandeza da ribalta.
A noite já ia alta
E a selva sempre a arder.
Para trás ficava a cinza
Com um sabor quente ao prazer
Das grandes emoções.
E árvores velhas,
De milenares gerações,
Erguiam troncos queimados,
Plantados em orações.
Mas os deuses assustados
P'los homens destruidores,
Ficavam paralisados nos andores,
Enquanto os vis ditadores
Da morte e destruição,
Derrubavam com paixão,
A tiros de balas certeiras,
As feras que mais ligeiras,
Fugiam à expiação.
Filipe Raimundo
Imagem - Quadro de
Lourdes Ximeno Lopes
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