domingo, 29 de outubro de 2017

"UM FIDALGO DESSES DE LANÇA NO CABIDE"


Vive, ainda, num lugar da Mancha, de cuja
Imortalidade só um nome resta, o Quixote
Só a lança e a espada são reais nas suas mãos 
Metal a balouçar no vento
E Rocinante
No qual cavalga toda a Espanha

Cinquenta anos, seco de carnes, rosto
Enxuto, olhar rijo contra moinhos
Vara de porcos e odres de vinho
Mulheres? Só uma
Dulcinea, que no coração do Quixote
Acalma o tropel das vitórias.

2015
© João Tomaz Parreira

domingo, 22 de outubro de 2017

COISAS DO CORAÇÃO!


Sinto e vejo as ondas a bailar,
Oiço os remos a ranger,
Vejo a força da nortada,
Noto a vela esfarrapada,
Está tudo a acontecer.
Vem aí a escuridão,
O mar está a ralhar,
O barco já está torto
Não quero ficar morto,
Tenho mesmo que aportar.
Hei-de ver boa terra,
Quero falar comigo,
A rota não está perdida
Quero agarrar-me à vida,
Vai haver porto de abrigo.
Vejo a luz inesperada,
Surgindo pra meu conforto,
Cláudia, Joana Luís,
Céu que tanto quis,
Lá achamos o porto.
Cá estou ainda, devidamente ancorado!


Faria Costa, Maio de 2012

domingo, 15 de outubro de 2017

GENT


Em Gent sou o estrangeiro
mais lúdico de Citadelpaark
Os meus olhos bailam nos seios das meninas loiras
e morenas de olhos de cor azul
que o mar de longe traz 
e pousa gaivota nos barcos casas
atracados ao longo dos canais.
A minha lúdica lucidez
deita-se na erva húmida
a beber a brincadeira jovem
branca e alva dos flamengos, morena e azeitona
das mulheres árabes de hijab
rosto lua rosto sol do oásis e do deserto
na tarde quente de agosto.
Os patos os pombos torcazes os melros e as gralhas
partilham o lago com os gansos
bicando as migalhas dos turistas japoneses
quando um grupo de chineses anda de um lado para o outro
à caça de pokémons ao lado do museum of fine arts.
As mulheres continuam a bailar nos meus olhos marinhos
apesar da passagem das bicicletas.

José Felix

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

HOJE


Hoje não escrevo
Nem quadras
Nem poemas
Nem nada.
Não quero inventar problemas
Por todos resolvidos.
Deixem-me ser
Um homem qualquer,
Tão saudável
Como um pintor de construção civil
Num domingo de sol
Ou como o rouxinol
Que canta sem saber que canta
E nos agrada.

Hoje não fiz
Nem versos
Nem poemas
Nem nada...
E sou feliz.

Floriano Henriques Silva
HC, 16/4/1968

domingo, 1 de outubro de 2017

VOTAR ?


A política partidária
É clímax do momento.
Após o coito, 
Entra na reflexão paritária...
Do êxtase e dos louros, 
Apenas reparte o excremento!

Jc