sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O BOTE -por João Tomaz Parreira




O BOTE


Apenas lhe ocorreu que se se afogasse seria uma pena

Stephen Crane (“O Salva Vidas”)



Já nenhum deles sabia a cor do céu
o vento levava
a negridão das nuvens aos andares celestes 
as águas
eram um muro que desmoronava
como avalanche branca

Já nenhum deles ouvia o grito
do peito das gaivotas, nenhum
deles sentia já as feridas
nas mãos que à vida se agarravam
só com os remos 
e um pressentimento.

Já nenhum
tem nos olhos a alegria da viagem
do início à plenitude.

1/8/2013
© João Tomaz Parreira

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

ARTIMANHA - de José Felix


artimanha


"No fundo do mar
ninguém escreveu os versos"

nas glaucas águas adormece
a tábua velha do naufrágio
como um amor que não fenece;
um mito, um conto, um adágio.

madeira idosa do navio,
de um camarote ou de um porão,
mantém a cinza do pavio,
o ardor, o lume da paixão.

revive assim a velha nau
com a palavra semeada,
no fundo do mar sem degrau,
que sobe verso a verso a aguada.

madeira na água sobrevida
com artimanha e nova vida 


josé félix

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O MILÉNIO - de João Tomáz Parreira


O MILÉNIO


O leão não será mais rápido que o boi
em busca de pastagens
o cordeiro e o pássaro
nascerão de uma fórmula poética
e o lobo
o beijo terá na sua boca
Os jogos dos meninos
serão com as aves
uma pomba e uma águia
navegarão
em águas de branco lôdo
Um anjo passará
em forma lírica
ao mundo o seu desejo. 

© João Tomaz Parreira 


(Desenho partilhado do Facebook)