domingo, 30 de agosto de 2015

PRECE DE UMA CRIANÇA E UM CRAVO

São milhões de crianças inocentes 
Vítimas de selvagens assassinos,
Pelas quais nem sequer dobram os sinos,
Ecoando os seus ais tristes, dolentes.
Quais pétalas de rosas sorridentes
Que balouçam nos caules tão franzinos,
Sorrindo à vida em suaves, belos hinos,
Morrem às mãos de bárbaros dementes.
E olhando, horrorizado, os lugentes caudais
De seres indefesos em mãos de chacais
Eu te peço, Senhor na minha inocência;
Transforma cada um em autêntico irmão,
Chamando-os ao amor em mente e coração
E lança sobre nós teu olhar de clemência!...
Júlio Corredeira

Ao cravo
Roubaram-lhe o amor,
Roubaram-lhe o chão,
Roubaram-lhe a cor,
Com a palma da mão!

domingo, 23 de agosto de 2015

COMO SÃO OS GATOS EM JERUSALÉM?


jung ou freud não explicam
o olhar nocturno de um gato
de dia tem o mesmo olhar de noite
e mudo-o várias vezes de posição
quer de noite quer de dia.
apesar disso mantém sempre a mesma iniciativa
como se fosse saltar sobre o pato real
no início do voo.
afinal eu é que respondo à teoria de pavlov
faço sempre um poema de cada vez que olho o gato
ao lado da planta de bambu
como são os gatos em jerusalém?


josé félix

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O BOM SOLDADO


Quando chegou a casa, o corpo
vinha conservado em cinzas
uma bandeira
era a pátria dobrada ritualmente
à morte previsível
O bom soldado poderia vir
sem membros, um vazio
no lugar dos olhos, veio
com a glória da pátria amada
num vaso de cinzas
Um longo caminho percorrido
oculto do vento, agora em silêncio


9/01/2013
© João Tomaz Parreira
(do livro "Esperar que a voz seja suave", 2014)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O MEU JARDIM

No meu jardim

Plantei no jardim do imaginário,
Uma linda flor.
Era cravo, era lírio, era rosa,
Ofereci,
A prenda mais airosa,
Olfato da alma,
Carinho, ternura,
Amor.
Foi-me a Natura generosa,
Inebriante cheiro,
Secreta linguagem,
Candura.
Símbolos de delicia e cor.
Pétalas de aroma e beleza,
No colorido a mensagem,
Saudade.
Libertação da dor,
Corpo a deslizar na leveza
Purificação na aragem ,
Verdade!
Jcorredeira

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A MOLDURA DO BARRO

toco-te
como se acariciasse
um jarro de cerâmica 
acabado de moldar
com as minhas mãos
criador dos sentidos
deus é pouco
no muito que consigo
nos gestos transitórios
se isto é amor
ou não é, não sei
perco-me no barro morno
e recrio outro modelo
enquanto a água goteja
no colo do jarro.

José Felix