domingo, 3 de julho de 2016

AMANHÃ !


Chega a noite triste e mansa
Parte o dia devagar,
Fica uma réstia de esperança
P´ra quando a manhã chegar.
Vêm meninos da rua
Não sabem ter alegria,
Trazem graxa na sacola
Nunca foram à escola
Esperando o novo dia.
Camiões de chapa amolgada
Levando na carga o povo,
Seguem ao longo da estrada
Toda ela esburacada,
Esperando o dia novo.
Chegam do lado do mar
São mulheres de quem as queria,
Sempre a mesma viagem
Trazem filhos na bagagem,
Esperando o novo dia.
Saco cheio de nada,
Na barriga nada de novo,
È o regresso malvado
Desse tempo metralhado,
Esperando o dia novo.
É na esperança do povo
Qual paz tão fugidia,
Que se espera o dia novo
Que se aguarda o novo dia.


Lobito,10 de Maio de 1998
Faria Costa

Costumo escrever com alguma frequência textos sobre desporto, política, tricas do quotidiano, quiçá assuntos de carácter geral. Seguramente que tais textos encontrarão diferenças de opinião, concordâncias e discordâncias.
Hoje para amenizar a leitura, decidi oferecer-vos um «poema”, que escrevi em Angola, Lobito 1998, em plena guerra civil Angolana, quando ali cumpri uma missão no âmbito da Cooperação Técnico-Militar.
Este «poema» mostra a verdade nua e crua que ao tempo se vivia em Angola.
Revela também como era o meu caso, que os militares têm sensibilidade e sentimentos que na maior parte dos casos nada têm a ver com o calibre das munições e o sentido da guerra.
A minha visão de Angola em 1992 era aquela que vos descrevo neste despretensioso «poema».

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