domingo, 29 de maio de 2016

O TEMPO



Aquele que nunca sofreu
Da desgraça os golpes duros;
Aquele que nunca bebeu
Doce amor de lábios puros;

Aquele que nunca sentiu,
No peito as penas dolorosas
Do ódio e jamais ouviu
Gemer os próprios algozes;

Que, aos poucos envelheceu
por conta, peso e medida,
-Não me diga que viveu:
Gastou apenas a vida…

Aníbal de Oliveira
( AO)

domingo, 22 de maio de 2016

O SONHO DO PILOTO


Vou-lhes contar num instante
Um sonho muito interessante
Que tive a noite passada
Pilotando um avião
Voava sobre o sertão
Numa bela madrugada     
                                           

A certa altura que horror
Avariou-se o motor
E com o medo me relaxo
Pensando num esqueleto
Sem pensar onde me meto
Atirei-me lá pra baixo


Na salvação vislumbrei
Um grande leão mirei
Que saía dum buraco
Fiquei cheio de energia
Confesso que me sentia
O Tarzan homem macaco


A socos matei leões,
Elefantes, tubarões,
Giboias e crocodilos
Papagaios e periquitos
Borboletas e mosquitos
Moscas, baratas e grilos


De manhã ao acordar
Quando me pus a olhar
Fiquei muito admirado
Tinha a cama toda partida
A mobília toda torcida
De tanto soco ter dado.
   
                                                                                  
Autor desconhecido
Remetido por Sérgio Durães

domingo, 15 de maio de 2016

UM SONHO


Sonhei-me a voar,
firmamento...
projecto sem destino certo,
luz da alma em rebuliço
tal qual o pensamento,
da gravidade liberto.
espaço como outrora,
entro em nuvens de linho,
não passou o tempo!...
revejo agora,
azul celeste a recordar
"horizontes de memória",
ondas de montes
no olhar.
vi-me a correr
célere como o vento.
das estrelas fiquei perto,
celebro o cometimento.
acordado entro a decifrar
linguagem estranha.
voo onírico,
abraçar.
esforço inconsciente,
alegria subjacente,
voltar de novo
a voar!!!
JCorredeira

segunda-feira, 9 de maio de 2016

MANUAL DE ESCULTURA

na robustez da pedra
aponta
o cinzel que modela
a face oculta

a que tem a substância
da doação
de nítida religiosidade
na sombra do sol

a ferramenta
prepara a pedra
a rugosidade do corpo

envelhece-o
na solidez permanente
do pó





José Félix

domingo, 1 de maio de 2016

A MÃE


Os filhos não são um eu separado das mães
Com elas ao nosso lado nós tínhamos
Um útero, um cordão
De ouro invisível, com elas ao nosso lado
Sabíamos a origem das coisas, de onde viemos
Do seu ventre encanecido, com rugas brancas
Como os cabelos, com as mães ao nosso lado
Nós tínhamos uma certidão de nascimento.



2015
© João Tomaz Parreira