quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A MINHA HISTÓRIA

 

domingo, 14 de março de 2021

PÔR DO SOL SEM FIM

 

A minha homenagem em poema aos que, com safatez, não são xenófobos nem fascistas!

__//__

a folha morta seguiu o vento
na tibieza do fervor esquecido
mágoa ancorada
em peito dolorido
a razão desconhece
o conhecido
sopram trombetas na luz da fachada
onde o palco deserto
desmerece
já não lembra a urbe da ribalta
guarida de sonhos esquecidos
lianas envoltas por perto
no sibilino espaço de solidão
sem banquete nota-se falta
ambíguo ressurgimento
memória sorvida em vão
liberdade falida em alta
florir o pérfido momento
o tempo a fugir dos olhos
os olhos a fugir da mão
mar imenso
Ieva-o na crista da vaga
a terra não espera
perfuma seu rosto de incenso
no longe e sempre sem imperativo
foi sonho ou quimera 👀😇


Jc

domingo, 7 de março de 2021

È LIVRE O PENSAMENTO ?!

 

Voar de alma aberta
na paz das consciências
Que já não suportam senões
nem letra morta...
Voar serenamente,
Insofismávelmente,
Que é isso o que mais importa!
Borboleta avençada, tem cautela!
---Desavença-te depressa e se tens ainda força
Voa livre que logo é tarde.
Abre as tuas asas em alacridade
E voa longe, voa, que a seara arde
E como a vida, também tu és bela.
Voa longe... que se o lume o pão consome,
Pois morra-se de fome
Mas viva-se em liberdade!...

domingo, 21 de fevereiro de 2021

DOMINGO - ESPERANÇA

 

(poeminha)
Ai este mar bravio...
Ai este mar em fúria!
É Inverno de sol sem frio,
É Amor de vindouro estio
Força da dor em penúria?


Jc
14-2-2021
Praia de S. Lourenço

domingo, 31 de janeiro de 2021

CONFINAMENTO

 

Confinamento 17°dia 31-01-2021☘️
Sensibilidade--a frio!
(aos que desrespeitam as regras)

...Olhai o deserto
Dos que não viram
A vida a acenar...perto, tão perto
Como o ar que respiram!
___ pudessem eles entender
A luz que não vêem
Porque a não querem ver...
___ Nem querem crer
No que não crêem!...
Olhai os caminhos horrendos
Dos que não encontraram a vida
Olhai os passos tremendos
Dos que perderam os seus
Passos para nunca mais!...
... Dos que perderam tudo!
Nos intermináveis lamaçais
De grandes e nobres
Pequenos e miseráveis!
Contudo
A doença está :
___No palácio dos ricos e também,
na choupana dos pobres!


Jc 


domingo, 17 de janeiro de 2021

NOCTURNO, ou sonho REALIDADE ☘️

 

Acordo em sobressalto. A noite é fria.
Não cai chuva ou geme o vento
Nas harpas do arvoredo.
Tudo é silêncio!
E o velho relógio, a medo,
Deixou de marcar o tempo.
Olho à volta:
Tudo é noite e tudo é nada.
Não há sul ou norte no olhar
Das estrelas encobertas
E, pareço estar
Em regiões desertas
Sem tempo, estradas, veredas ou sinais --
-- Amplidão em silêncio e nada mais..

Pesadelo dum espírito sem norte
Ou sonho sem nada que sonhar?
Pensamento que vagueia, à sorte.
Por noites cegas, tristes, sem luar?
Não, não é sonho, pesadelo ou fantasia
Porque em minha alma desperta
Uma dor real e certa.
Estranha ansiedade, que eu não sentia.

Amigos, porque me chamais em ânsia
Se eu não consigo vencer essa distância
Para vos estender a mão já tão cansada?!

A. Tormes (JC)
(pseudónimo)

domingo, 10 de janeiro de 2021

MOMENTO À LAREIRA.


(um poeminha em descanso. Começou a nevar há 10 minutos) ❤️
Queria fazer-te um verso
que não fosse apenas poema;
uma só palavra
a crepitar neste universo
de beleza suprema.
mão de criança,
ou carícia amena!?
sentado,
ante meus olhos, só o calor do lume
calmo neste dia sonolento
lá fora apenas o gemer do vento
anunciando um céu de chuva
a esvoaçar...
a noite apressada, esquece o dia.
na minha alma difusa
baloiça adolescente flor,
não há um pingo de nostalgia.
apenas um despertar de sonhos
de errante e perpétuo viajor.
que a eterna saudade alimenta
neste fim de tarde
gelada e pardacenta.

Jc
Montesinho 9-01-2021 ÀS 20:00 Horas

domingo, 20 de dezembro de 2020

NOITE DE NATAL

 

So! Absolutamente só, à mesa.
Parentes e amigos tão dispersos,
Levados por destinos tão diversos,
Comungam na alegria e na tristeza.

A noite fria, de chuvisco e vento,
Escuta, no silêncio as orações
E o eco longínquo de canções
A evocar de Cristo o nascimento.

Mas na tela da minha fantasia,
Vejo agora, em minha companhia,
Os amigos distantes e os parentes.

E contemplo também esse csudal
De tantos para os quais não há Natal,
Sobretudo famintos e doentes.

JC

foto: presépio no largo do Palácio Real de Mafra 


domingo, 13 de dezembro de 2020

AFIRMAÇÃO DE VIVER


Vê,
Como nem as grandes árvores da floresta
Querem mais nada senão viver!...
-Os seus troncos são firmes, é duro o seu porte:
De copa larga como um coreto em festa
Ocupado pela passarada
Ao entardecer...
E se o lenhador, repara,
De fundo golpe à terra intenta
Lançar à força esses gigantes inspiradores
Do amor e da poesia,
Ainda é só o corpo que lhes corta,
Que a alma, essa, não!...
Nas raízes profundas e numa espécie de nostalgia,
Pela vida e pela beleza,
Outra vez rebenta, volta a crescer!..
.
Jc

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A NEVE



não era fria a neve que caía do céu da minha cidade era lume de nostalgia quente de bem que sabia calor de saudade


Jc


domingo, 25 de outubro de 2020

HOJE !


O céu ficou cinzento,
Os montes a sofrer,
Veio a chuva perdida,

Com uma força atrevida,
Deixar a água correr.
Azinheiras enxarcadas,
A água se está movendo,
Forças da natureza,
Trazendo a certeza,
Que a água está correndo.
Coisas estas do tempo,
Qual tempo sem parar,
A água tem que vir,
Para poder permitir,
As coisas para nos dar.


Évora, 20 de outubro de 2020

Faria Costa

sábado, 17 de outubro de 2020

AFECTIVIDADE - GRATIDÃO (AOS MEUS AMIGOS)

 

Eu sou entendimento e sou vontade,
Sou corpo, sou paixão e também dor;

Sou alegria, coração e amor,
Sou presente, futuro e também saudade.

Floresce dentro em mim essa amizade,
Como na Primavera a bela flor
Espalhando nos campos seu olor,
Feita de abraço e feita de verdade.

E da férrea vontade do meu ser,
Com força de mistério e sem eu ver,
Emerge o afecto mágico e profundo.

E através dele eu entro em relação
Comigo, com outro – meu irmão –
E mesmo com as formas deste mundo.


A.Tormes (JC)
(pseudónimo)
foto: Barragem Serra Serrada-Montesinho

domingo, 11 de outubro de 2020

SONETO DE EXÍLIO


São as minúcias da paisagem íntima
a caminhar na cinza do meu corpo
a sombra ténue que rasteja um pouco
e a luz da sombra o copo deixa ínfima

nos lábios da conversa tão humílima.
A brisa da memória que me trai
na duração do tempo que se esvai
na asa da infância que me fiz legítima.

Sei que não é a ilha é a míngua
da voz traída que marca a distância
do sonho de um país de sonho e morto

já distorcido pela escrita, a língua
florete que me faz na transumância
o marinheiro errante em qualquer porto.

Quanto mais penso e digo sou sem pátria
mais sinto o apelo da ditosa mátria.


José Félix
2020.7.20


domingo, 4 de outubro de 2020

DOM QUIXOTE



(Ou uma lenda fascinante)

Quixote! O cavaleiro da triste figura,
Um símbolo imortal de fidalgo lendário,
Conquistador alucinado e visionário
De incrível fantasia e pleno de bravura.

De compleição esguia, barba e face dura, Investes sem temor contra o imaginário
E convertes tua vida em trágico fadário,
Sem escutar a voz do senso e da cordura.

Herói incorrigível de porte garboso
Que vês na rude campesina de Toboso
A dama esbelta do teu cego romantismo!

Quantos desprezam teu risível batalhar,
Mas quão poucos o procuram encontrar
No que ele encerra de justiça e humanismo!...


Jc

domingo, 27 de setembro de 2020

SOLDADO FEITO


De mim fizeram
Um soldado e me mandaram
P'rás terras de ninguém,
Lutar com alguém
Que não conheço
E não odeio.

De mim fizeram
Aquilo que agora sou:
Máquina de lutar,
Homem que não pode pensar.

De mim fizeram,
Um soldado e me impuseram
Condição de matar,
Para satisfazer ambições de glória
De homens sem razão.

De mim fizeram
Um soldado sem história,
Mais um soldado sem história.

Fizeram.
São eles que fazem tudo.
Fizeram soldado mudo
E deram-me uma espingarda.

Fizeram
um robot e me disseram:
“Vai para a guerra matar,
Que quando a guerra acabar,
Nós damos-te uma medalha.”

E deram-me,
Um uniforme e um número
Que é a minha identidade,
E disseram-me:
“Agora não tens idade,
Não tens nome,
Não tens nada,
A não ser o corpo pronto
Para receber uma bala.”

Filipe Raimundo, AB4, 1972

domingo, 26 de julho de 2020

SONHO E REALIDADE


Adormeço. E perco a consciência
De qualquer ruído ou voz de gente
Que me desperte à existência.

Mergulhado no vazio do não-ser,
Nem sei mesmo se existo,
Com espírito e figura
Mergulhados no seio
Da noite muda, escura.
Onde estará o pensamento,
A emotividade, o sentimento
A liberdade, a fantasia,
Que me davam novo alento,
Quando, ao romper da aurora,
Já consciente e atento,
Eu via nesse agora,
Que acabava de emergir,
Mais um novo dia
Misterioso e consciente reflexo
Do passado, do presente e do porvir?
Onde o velho relógio, que fiel, obediente,
Me despertava a recordar a hora,
Ponto de referência
Para o ontem e o agora
A olhar, com esperança on amanhã?



Jc

domingo, 19 de julho de 2020

NÃO HÁ MÃOS


Não há mãos quando a morte sobrevém.
a palavra, o esqueleto da linguagem
ganha formas bizarras no caminho
da vida carpideira, com a imagem
do sol inatingível cocegando
o rosto que da sombra tira luz
bebendo a parca sede que lhe resta
do fio de água que já não conduz.
na escuridão da fala não há nomes
nem há figura de estilo que valha
que sobreviva a tanta quietude.
é que morte é simplesmente morte.
até de um corpo belo de desejo
não ná mais do que ter esta atitude
se é luz ou se é a sombra dela

José Félix, Teoria do Esquecimento, Temas Originais, Lda., 2009, pág. 37

domingo, 12 de julho de 2020

TANTOS


Eramos muitos!
Eramos tantos que por vezes,
Nos não encontrávamos no meio da multidão.
Mas eramos!...Estávamos lá!...e existiamos;
Em grupos!...Aos magotes!...
Gregáriamente unidos, como animais com medo!
Gregáriamente unidos, na esperança de uma vós.
Nós!...Soldados que nos fizeram.
Tantos, e contudo tão sós.
Nós!...Que nunca aceitámos ser
Aquilo que éramos.
Mas éramos!...
Uma colónia de loucos em busca de nós mesmos.
Por isso nos embriegávamos,
Para nos libertarmos da farda,
Que nos transformáva em máquinas humanizadas.
Por isso nos drogávamos,
Para alcançarmos nas abstrações do nada,
A dimensão dos nossos sonhos frustrados.
A realidade que nos impunham
Era demasiado cruel!...
Era brutal;
E nós nunca aceitamos ser
A incarnação do mal.
Mas eramos,
Lá!... Em África!...
Nesse Continente que eu antes sonhara virgem,
Natural.
Lá!...Nós fomos os desbravadores dos seus mistérios,
Lá!...Nós fomos os desfloradores
Da sua selvagem virgindade.
Lá!...Eu fui soldado sem vontade,
Por vontade de ditadores de gema;
E foi lá que eu colhi,
A fúria!...A raiva!...E a revolta
Com que escrevi este poema.



Escrito em Tancos em Maio de 1973
Filipe Raimundo

domingo, 5 de julho de 2020

TENTEI SER POETA


Um dia, nem sei como, tentei escalar
O Parnaso, alto monte, onde os grandes poetas,
Que, na Terra, atingiram as difíceis metas 

Da poesia em que tudo é arte e é sonhar!

E fui subindo, a custo e com muito vagar,
Olhando para o alto e seguindo as setas,
Que essas almas dos vates sempre irrequietas
Gravaram na estrada para nos guiar.

Mas o caminho é longo, áspero e tortuoso,
Umas vezes escuro e outras luminoso,
E tantos se ficaram a meio da viagem!

Depois de muito andar e já quase esgotado,
Olhei por largo tempo o cume desejado,
E vi que, para mim, era apenas miragem...



júlio corredeira

domingo, 28 de junho de 2020

NÃO HÁ MÃOS


Não há mãos quando a morte sobrevém.
a palavra, o esqueleto da linguagem
ganha formas bizarras no caminho
da vida carpideira, com a imagem
do sol inatingível cocegando
o rosto que da sombra tira luz
bebendo a parca sede que lhe resta
do fio de água que já não conduz.
na escuridão da fala não há nomes
nem há figura de estilo que valha
que sobreviva a tanta quietude.
é que morte é simplesmente morte.
até de um corpo belo de desejo
não ná mais do que ter esta atitude
se é luz ou se é a sombra dela


José Félix, Teoria do Esquecimento, Temas Originais, Lda., 2009, pág. 37

domingo, 21 de junho de 2020

PÉROLA NEGRA


Não sei explicar este enigma!
Os outros dizem que é feia.
E eu concordo,
Sou forçado a concordar
Porque ela, é mesmo feia.
Mas!...Paradoxo!
Encontro nela uma beleza singular,
Talvez na forma de rir,
Talvez na forma de olhar,
Talvez!
Sim, talvez porque ao rir,
Não utiliza a hipocrisia,
E não sufoca a gargalhada,
Ri sem fantasia
De qualquer coisa engraçada,
E comunica alegria
Aos outros,
Como ela, malfadados.

Chama-se ROSA!
E a ROSA tem de humano,
A posição vertical.
O resto...
O resto
É de animal irracional.
Não tem ódio no olhar,
Nem rancor pelos tiranos;
Ambições também não tem,
Que a vida
Sempre lhe deu desenganos,
E ela deixou de ambicionar.

Um dia vi-a chorar!
Um soldado lhe batera,
E ela para mim correra a gritar...
- Raimundo! - Raimundo!
- Os tropa me bateu,
- Os tropa me bateu, Raimundo!

- Ah! porco imundo!
- Rosnei eu.
Heróis da podridão,
Vejam...
Um valentão.

Passei-lhe uma das mãos
Pela face tremente,
Duas pérolas rolavam lentamente
Pela face da negrita,
E naquele momento...
Naquele momento,
Achei-a ainda mais bonita.

Não chores Rosita,
Disse eu.
E ela deixou de chorar.
E uma lágrima quente
Veio-se aconchegar,
Na minha outra mão,
Que pendia, inconsciente.
- Os tropa me bateu!
Disse ela novamente.
- O tropa é mau!
Disse eu.
E calei-me
Sem saber que dizer mais.
Aquela é uma rosa
Que não se encontra nos rosais!
Pétalas negras,
Pistilo de marfim,
E dois estigmas dardejantes de pureza,
Que beleza!
Nunca vi outra assim.

De ambos os lados
Tinha um botão a abrir,
Eram os filhos
A olhar para mim!
O Jorge e a Amelonga,
Dois rebentos da desgraça,
Que nasceram para sofrer,
E para provar ao mundo
Que viver,
É uma infinita graça ,
É um supremo poder.

No ventre,
Tinham a marca do pirão,
Farináceo que dilata os intestinos;
No rosto,
Um sorriso de gratidão,
Pela minha compreensão.
Só eu,
Ao que parece,
Compreendia os seus destinos.
Os outros
Viam na Rosa
A carne satisfeita.
Faziam dela a prostituta eleita,
E depois partiam, sem mais contemplações.
E ela,
A máquina humana do prazer,
Satisfazia machões,
Para alimentar os filhos,
Para os não deixar morrer


Filipe Raimundo, AB4, 1971.