domingo, 31 de janeiro de 2016

RETROSPECTIVA

Portugal houve um tempo em que 
dei-te tudo, na minha juventude
um pouco quase fatal do meu sangue 
em África, as candeias da noite 
estiveram com esse sangue a iluminar 
a escuridão, dei-te tudo 
Portugal, e agora não sou nada.
Os cofres estão cheios, alguns
que nunca souberam o que era uma guerra
dizem-no, Portugal, mas eu como tantos
não sou nada. Como diria o Allen
Ginsberg. Vai-te lixar
com os teus merceeiros enriquecidos.

23-03-2015
© João Tomaz Parreira

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

SONHO SEM TEMPO

Horas da noite!
desgarrada a fantasia
voei para mundo hoje imaginário.
senti-me só,
homem solitário
imerso em profunda e suave nostalgia.
talvez, uma floresta onde aportei certo dia,
guiado pela oculta mão do meu fadário,
porque ali nem relógio do tempo existia.
mas foi um sonho com forma e também imagem,
terra, onde todos vós foram miragem,
símbolos subtis da minha soledade!...
passados muitos anos, ao certo, nem eu sei...
mas quando a luz entrou no quarto e acordei,
senti dentro de mim mil abraços de saudade!...

JCorredeira
Foto do saudoso Gido Ferreira

domingo, 17 de janeiro de 2016

SE EU PUDESSE ESCOLHER


Se eu pudesse escolher o sitio onde algum dia
Dormindo o meu corpo inanimado há-de ficar
Não era o cemitério, o chão banal que é dado,
Aos que da vida se vão despedindo

Acho que de um cipreste, a sombra é muito esguia…
Que um olmeiro, dos que vejo,
é muito mais copado…
Que um túmulo
de pedra esmaga de pesado,

Mas há uma terra que eu sei, que mais leve me seria.

Se em vez de descansar o meu corpo frio em Campo Santo
Pudesse ter descanso á sombra conhecida,
Das árvores que amei e do cheiro que conheci!...
Desde pequenino…..
Eu sei o que escolheria
Se a terra que pisei me fosse concedida para dormir em paz….
Como eu gostaria…
De ter assim na morte o  que achei de bom na vida.

Aníbal de Oliveira



domingo, 10 de janeiro de 2016

A ACUSAÇÃO


Alguém deve ter espreitado a intimidade
Da mulher. Por isso a trouxeram. Há pouco
As mãos estavam prontas
Para o frio das pedras. Agora todas
As palavras morrem, os olhos
Seguem de perto o lirismo do mistério
Que é escrever no chão.
Afinal quem eram? A farsa da justiça?
E pensar que depois disto, vão para suas casas
Para junto da família, beijar
A mãe, a mulher, os filhos, com uma
Consciência que só condena os outros.
- Depois de ouvirem quem atira a pedra, a primeira
A pedra inicial, não há entre todos um homem
Sem pecado que a atire.


19-08-2015
© João Tomaz Parreira

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

AO CAZOMBO ( uma paixão)


A todos os camaradas que por lá passaram.

Cada lembrança ,
é lágrima de saudade
que dorme nos ventos da solidão.
tempo que parou sem se deter,
hoje cinzento, a cor da verdade
memória em lapidação.
retrato tatuado,
mente em festa por te rever.
cada momento sonhado,
uma realidade,
que o tempo não deixa morrer!
o longe, no peito gravado,
asas de amizade vestidas,
horas a perpetuar vidas!...
sanzala a dormir e serena
som idílico, Zambeze a sorrir
Cazombo, feitiço em voz Luena.
Júlio Corredeira