domingo, 7 de julho de 2019

A FLOR DA ÁGUA


o copo de gin é o teu
segundo corpo ou o outro
corpo que procuras na resignação
de uma janela semi-cerrada
com receio de que a réstia de sol
aclare a ideia e a visão
de um saber que não soubeste
alisar a esquina sem ferir.
procuras o balcão, suporte dos olhos,
perdido nas ruas de uma cidade imaginada
e sangras palavras que o álcool
faz mais eficaz aos ouvintes
possíveis que escutam provisoriamente,
de passagem, à espera de um conto
sobre um gajo que ganha a existência
fazendo rodas de fumo cinza
nodando os dedos sobre o madeiro.
na tertúlia do próprio corpo
constróis o poema que é lido
com a voz de vinho por um tipo qualquer
e o leva para casa
como a relíquia mais presente de um dia de agonia.
há vidas que estão presas aos costumes
como outros há que se acostumam
aos restos das paredes onde se escondem
alguns minutos de sexo e esperma
e,também, ilusões de sonho no inox das colheres.
há quanto tempo não beijas o ventre
de uma mulher acesa
e sentes a flor da água seguir-te os dedos?

josé félix

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