domingo, 12 de janeiro de 2020

A VOZ DO DESEJO


na sala nem a sombra de um retrato
nomeia a luz do rosto que pertence
aos cílios finos da memória intrusa.
eu queria, mãe, ver-te envelhecer
sem que a escrita comprometesse a vida
e o engelhar da folha fosse só
um pequeno sorriso na respiração da árvore.
construo-te ruga a ruga na velhice
perfeita de uma tela antiga
mas dói-me a fala porque a tua juventude
cala a voz do desejo da flor íntima.
que coisas poderíamos ter dito
na geografia de gestos e na
paciência das estações.

josé félix

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