domingo, 28 de junho de 2020

NÃO HÁ MÃOS


Não há mãos quando a morte sobrevém.
a palavra, o esqueleto da linguagem
ganha formas bizarras no caminho
da vida carpideira, com a imagem
do sol inatingível cocegando
o rosto que da sombra tira luz
bebendo a parca sede que lhe resta
do fio de água que já não conduz.
na escuridão da fala não há nomes
nem há figura de estilo que valha
que sobreviva a tanta quietude.
é que morte é simplesmente morte.
até de um corpo belo de desejo
não ná mais do que ter esta atitude
se é luz ou se é a sombra dela


José Félix, Teoria do Esquecimento, Temas Originais, Lda., 2009, pág. 37

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