segunda-feira, 18 de maio de 2015

CHUVA NA SEARA


Primeiro o vento, raivoso, em turbilhões
Move a seara numa louca dança
Anunciando a chuva que avança
Distribuindo faíscas e trovões.

Vibrando, a chapa de zinco do telhado
Ensurdece quem dela faz abrigo
Enquanto que lá fora o loiro trigo
Pela chuva e pelo vento é fustigado.

Cai forte, sim, mas não demora
A chuvada que por essa terra fora
Vai formando charcos e torrentes

E quando a nuvem negra vai embora
O sol, brilhando, activa e revigora
A vida adormecida nas sementes.

José Carvalho
Ouaninou, 22 AGO 95

domingo, 17 de maio de 2015

TALVEZ TESTAMENTO POÉTICO:


[ESTOU SEM DÚVIDA ENTRE AQUELES QUE FALHARAM]
“A man has every place to lay his head.”
Philip Levine

Estou sem dúvida entre aqueles que falharam
Como Philip Levine o poeta dos operários, trabalhei
Também no turno da noite,
Onde tive os melhores propósitos
Nos versos que me acordavam. Muitas vezes,
Entre aqueles que falharam
Conto com David e Pedro que amargamente choraram
Com a alma nos olhos, um rei que fez poemas e o pescador
Que deixou barco e redes e não teve, como Quem o chamou
Onde reclinar a cabeça.

Um homem tem todo o lugar para reclinar
A cabeça, o que está sobre os meus ombros
É o peso que me diz há sessenta e tantos anos que falhei.
Como Paulo que entendia os gentios, o que quis
Fazer não o fiz, miserável corpo para a morte.

Não sou pior nem melhor que os demais
Gosto de poucas coisas, do sol, os dias de chuva
São inconvenientes para os meus nervos, golpeiam-me
As pedras que ouço às vezes nas vozes.


Quero dizê-lo agora, porque é uma questão
De tempo, ser honesto e que todos saibam
Que apesar de tudo não tenho escondido sob rótulos
Os poemas que possam ser eu mesmo.

18-02-2014
© João Tomaz Parreira

terça-feira, 12 de maio de 2015

ODE AO T6


Uma letra, um algarismo,
Símbolo mais mítico
Que o do ‘cavalinho’ da Ferrari,
Stradivarius (que delírio!) voador!

T 6

Nesse teu pequeno cockpit
Conténs a enormidade
De quase 40 anos da Minha vida,
Dos quais, pareço não ter referências.

Entre isso,
Existe a Época em que por lá passámos e,
Este momento, presente,
Do voo de experiência
A que estou a ser sujeito.

Não quero falar por Vós, mas penso,
Que nunca pusestes aqueles 2 anos no sótão:
Continuam na prateleira,
E, de quando em vez,
Ao limparmos-lhes o ‘pó’ ,
Que é composto pela ´terra’ que lá pisámos,
Fazemos libertar, novamente,
Aquele Passado,

Que vem estrangular
A garganta das Nossas emoções.

Estou a relembrar Isto, porque, ontem,
Na ‘catedral’ do silêncio da noite,
Visionei fotos, da autoria do José de Sousa,
De um CD Rom, da época de 68/70:

A nr.
Apresenta o interior de um cockpit de um T 6!
‘Instalei-me’ lá dentro, e,
As longarinas do meu Ser, foram,
Totalmente, sacudidas,
Pelo ‘Sism’ da’saída da picada’,
De um ‘passe de fogo’!

Depois, mais refeito,
Tentei re-identificar os instrumentos,
As manetes: gás, mistura, passe de hélice, flaps,
Os instrumentos: horizonte artificial, conta rotações, etc.,
E ainda, a alavanca manual para o caso de………

O cheiro de óleo, rasgou o Tempo
Misturado na tinta das recordações.
Que ‘desfile’,
Dentro de um ‘palco’ tão diminuto!
Gostaria de ser capaz de exteriorizar,
Em ‘cenário’ de autenticidade,
Os G’s a que fui submetido!

A foto nr……
À vertical de H. Carvalho…….
Estive Lá?
Tudo Aquilo Me pertenceu,
Ou Eu contínuo a Pertencer-lhe?

M O Y O ! !
Riquier ( Menino )



domingo, 3 de maio de 2015

"INDÓMITOS PILOTOS"


A Vós indómitos pilotos de "rapadas" nas Avenidas de Henrique de Carvalho,
Briosos fuzileiros até, das àguas revoltosas das piscinas de H. de Carvalho e Luso.
Não arredáveis pé nos Maca de Sanzara,
E enfrentáveis os perigos da noite,
Nos quimbos das "Marias, Bêbeda e Marreca".
Levantadores de "pesos" das hostes rivais da Cuca e Nocal,
Apenas “derrotados” e “caídos por terra”
Nas lutas domingueiras em que enfrentáveis
O Temível “Galo Cantou”.

Expandiste-vos por Terras do Camaxilo, Cazombo e Gago Coutinho,
Nos intervalos das blenorragias, curadas em Luanda,
Terra de partida e chegada dos Mininos com Banga.

Vou meter uma bandeirada ,
Pois este motor é da guerra de 40.
Assim chegarei ao fim deste voo ,
Planando, suavemente, como convém à minha vetusta aeronave.


M O Y O ! !

Riquier ( Menino)